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Cinedebate

Cinedebate sobre a ditadura militar integrou os câmpus Jacareí e Caraguatatuba do IFSP

Publicado: Quinta, 03 de Mai de 2018, 09h45 | Última atualização em Quinta, 03 de Mai de 2018, 15h01

No dia 27 de abril de 2018, sexta-feira, tanto a partir das 13h30, quanto a partir das 19h00, no auditório do Câmpus de Jacareí do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), ocorreu a exibição – seguida pelo debate – do documentário “Cúmplices? A Volkswagen e a Ditadura Militar no Brasil”. A organização destes dois cinedebates contou com o apoio do bolsista do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” Caio Cesar Nogueira e do bolsista de iniciação científica João Pereira Neto (com bolsa PIBIC/CNPq), orientados pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira no IFSP-Caraguatatuba, bem como da bolsista do projeto de extensão “Cinedebate: Direitos Humanos em foco” Viviane Aparecida da Silva, orientada pelo professor Héctor Luis Roefero Baz Reyes no IFSP-Jacareí, e também da professora Renata Plaza Teixeira, docente de Psicologia do IFSP-Jacareí. Durante ambos os cinedebates, Lúcio Bellentani – que é o principal entrevistado do documentário – esteve presente de modo a dar o seu depoimento pessoal sobre as questões abordadas pelo documentário e a responder as perguntas dos presentes.

Renata, Ricardo, Lúcio, Julia e Héctor no pátio do IFSP-Jacareí

Além dos professores Ricardo Plaza (do IFSP-Caraguatatuba), Héctor Reyes e Renata Plaza (ambos do IFSP-Jacareí), diversos outros professores do IFSP-Jacareí estiveram presentes nestas sessões de cinedebates, dentre os quais Paulo Alexandre Bronzato Nogueira (que é Diretor Adjunto Educacional do IFSP-Jacareí), Julia Chagas da Costa Mattos, Antonio Carlos Zonzini Barreto, Taimi Haensel, Lineu Fernando Stege Mialaret, Flávia Preto de Godoy Oliveira, Raquel Fonseca Maldonado, Evandeg Ferreira dos Santos, Clayton do Espírito Santo e Diane Mota Mello Freire.

Professora Renata e Lúcio refletem acerca dos fatos descritos pelo documentário

A ideia original para realizar este cinedebate surgiu de um contato inicial do professor Ricardo Plaza com a professora Renata Plaza e o professor Héctor Reyes de modo a realizar uma ação que integrasse os dois câmpus do IFSP de Jacareí e de Caraguatatuba, por meio de uma atividade de extensão. Como o documentário “Cúmplices? A Volkswagen e a Ditadura Militar no Brasil” já tinha sido exibido com sucesso em um cinedebate realizado no IFSP-Caraguatatuba em 29/03/2018, o professor Ricardo deu a ideia – que foi aceita – de exibi-lo no IFSP-Jacareí.

Público presente no cinedebate que ocorreu de tarde

O documentário “Cúmplices? A Volkswagen e a Ditadura Militar no Brasil” (o seu título em alemão é: “Komplizen? – Volkswagen und die brasilianische Militärdiktatur”) tem 44 minutos de duração e foi produzido pela TV pública alemã com o objetivo de discutir a colaboração da empresa automobilística Volkswagen com os órgãos de repressão do regime militar que vigorou no Brasil por 21 anos, entre 1964 e 1985. Um bom artigo com mais informações acerca deste documentário pode ser lido aqui.

Professor Héctor debate com Lúcio acerca do documentário “Cúmplices?”

Este documentário está centrado na história de Lúcio Bellentani, um operário preso em 1972 dentro da fábrica da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e figura central no inquérito que corre no Ministério Público Federal: após a sua prisão, Lúcio foi torturado pelos órgãos repressivos do Regime Militar.

Imagem exibida no documentário “Cúmplices?”

Os documentos apresentados no documentário são frutos dos trabalhos iniciados na Comissão Nacional da Verdade e continuados pelo IIEP (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas) para o Fórum dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Verdade, Justiça e Reparação. A divulgação deste documentário teve grande repercussão na Alemanha e no Brasil por revelar a cumplicidade da empresa Volkswagen com o regime de opressão que se instalou no Brasil em 1964.

Público presente no cinedebate que ocorreu no período noturno

Durante os debates após as exibições, foi dada ênfase para a importância de valorizar a democracia – que foi conquistada com muita luta – e repudiar afirmações equivocadas do tipo “na ditadura, tudo era melhor”.

Foi lembrada, ainda, a importância da estruturação de um memorial lembrando as vítimas e os fatos hediondos ocorridos durante a ditadura militar brasileira. A esse respeito, foi mencionado que antigos campos de extermínio nazistas na Alemanha e na Polônia foram transformados em museus a fim de que as novas gerações conheçam mais profundamente como foi o período sombrio de opressão vivido durante o regime nazista, como acontece no campo de concentração de Dachau, localizado nas imediações da cidade de Munique, no sul da Alemanha, em cuja entrada está escrita a frase “O povo que esquece a sua história corre o risco de repeti-la”, recordando-nos de que é fundamental conhecer e refletir sobre o passado para tentarmos evitar que tragédias se repitam.

Destacou-se também que nada justifica a tortura e a prisão arbitrária, como sucedeu com Lúcio Bellentani e tantos outros homens e mulheres, que foram presos, torturados e até mesmo mortos por lutarem contra a ditadura militar ou simplesmente por terem convicções políticas divergentes daqueles que estavam no poder durante o estado de exceção no Brasil, realçando-se que os direitos humanos e a dignidade devem ser respeitados em qualquer situação, inclusive em casos de crimes comuns. Lúcio Bellentani mencionou as tristes consequências psicológicas para as vítimas da ditadura, cujos desmandos afetaram terrivelmente as pessoas que foram perseguidas, presas, torturadas e mortas, bem como seus familiares, incluindo não só adultos, mas também muitas crianças, como se deu com seus filhos, que eram ainda pequeninos quando Lúcio foi arbitrariamente preso, permanecendo durante meses sem qualquer registro de sua permanência no cárcere.

Lúcio e professor Ricardo debatem o documentário “Cúmplices?”

Entre o público do cinedebate que ocorreu no período vespertino, estiveram presentes muitos adolescentes, especialmente estudantes do ensino médio integrado com o técnico; já o público do cinedebate que ocorreu no período noturno era mais adulto, inclusive com uma presença mais ampla de pessoas da comunidade externa ao IFSP, como foi o caso de Ana Carla de Oliveira, estudante de Pós-Graduação da ESPM que trabalha em Jacareí.

No período noturno estiveram presentes também Maria Sérgia Bellentani, esposa de Lúcio, bem como seu neto Gustavo e sua bisneta Mariane, além de seu amigo Vilmo Oliver Franchi, que foi igualmente um ativista sindical no final dos anos 1970.

Lúcio, Maria Sérgia, Gustavo e Mariane

O documentário ressalta também o fato de que um ex-comandante dos campos de extermínio nazistas de Treblinka e Sobibor, na Polônia, Franz Paul Stangl, trabalhou por oito anos na Volkswagen do Brasil, onde ajudou a montar um verdadeiro esquema de espionagem na fábrica, em colaboração com o regime militar: Stangl foi condenado por 400 mil assassinatos durante o regime nazista. Mais informações a este respeito estão no site da agência de notícias alemã “Deutsche Welle” (DW), em português, no artigo “Um comandante nazista na Volkswagen do Brasil”, que pode ser lido aqui.

Bolsistas Viviane, Caio e João

Este documentário legendado em português pode ser assistido integral e gratuitamente aqui. Uma boa reportagem de 5 minutos sobre este documentário pode ser assistida aqui.

Professores Ricardo, Paulo e Renata

Os professores que organizaram este cinedebate agradecem imensamente a participação generosa de Lúcio Bellentani, que com seus depoimentos ajudou a esclarecer sobre a importância do respeito aos direitos humanos, uma conquista do processo civilizatório. O professor Ricardo Plaza, ao apresentar Lúcio para o público, lembrou da conhecida frase do escritor alemão Bertolt Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida: estes são imprescindíveis.”

Cena do documentário “Cúmplices?”

A ditadura militar foi um período bastante sombrio da história brasileira e atividades como esta permitem recordar para as novas gerações a importância da liberdade e da democracia, até para que a sociedade não cometa os mesmos erros do passado, devido ao desconhecimento de sua própria história. Após o encerramento dos dois cinedebates, muitos jovens que estiveram presentes se manifestaram com expressões como: “Aprendi muito”, “Foi emocionante” e “Foi um evento muito importante”.

João, Caio, Ana Carla e professor Ricardo Plaza

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas pela equipe do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo professor Ricardo Plaza no âmbito do IFSP-Caraguatatuba e pela equipe do projeto de extensão “Cinedebate: Direitos Humanos em Foco” coordenado pelo professor Héctor Reyes no âmbito do IFSP-Jacareí. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre obras cinematográficas que permitam ampliar a visão de mundo, lutar contra preconceitos, enfatizar a importância do respeito aos direitos humanos e expandir o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para os interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP.

Fonte: Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira

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