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Cinedebate

Cinedebate discutiu filme sobre uma jovem enxadrista de Uganda

Publicado: Quarta, 22 de Novembro de 2017, 16h38 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h16

No dia 17 de novembro de 2017, sexta-feira, a partir das 16h15, ocorreu uma sessão de cinedebate no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição – seguida pela posterior discussão – do filme “Rainha de Katwe”, uma história real acerca da vida da jovem jogadora de xadrez Phiona Mutesi. A organização deste evento contou com o apoio dos bolsistas do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” (Kauã Estevam Cardoso de Freitas, Rodrigo Henrique Revelete Godoy, Rafael Honório Morais de Oliveira, Rafael do Nascimento Sorensen, Diego Corrêa Peres de Souza, Julia Cristina Barbosa Lucoveis e Ruy Guilherme Farias Santos Bastos), bem como de bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto, Adriana de Andrade, Rafael Brock Domingos e Izabela Duarte), todos eles orientados pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira.

Professor Ricardo com alguns dos bolsistas neste cinedebate sobre o filme “Rainha de Katwe”

O filme “Rainha de Katwe” (o título em inglês é: “Queen of Katwe”) foi lançado em 2016, dirigido pela indiana (radicada nos Estados Unidos) Mira Nair e coproduzido pelos estúdios da Disney e pela rede de canais de esporte ESPN. O seu trailer legendado em português pode ser visto em: <https://www.youtube.com/watch?v=LgBOmczxnTc>. Mais informações acerca deste filme podem ser obtidas no site do IMDB no link <http://www.imdb.com/title/tt4341582/?ref_=fn_al_tt_1>.

A história do filme mostra a vida real da enxadrista Phiona Mutesi (interpretada de modo magnífico pela jovem atriz Madina Nalwanga), analfabeta, com 11 anos e vivendo em um bairro muito pobre (Katwe) de Kampala, capital de Uganda. Após descobrir o jogo de xadrez, a sua vida muda devido ao potencial que ela apresenta para este jogo. É uma história de superação que mostra a importância de qualidades como persistência, humildade, dedicação e empenho. Quem apresenta o xadrez para Phiona é o engenheiro desempregado Robert Katende (interpretado pelo ator David Oyelowo) que realiza um trabalho de cunho social como professor de xadrez para crianças pobres; no seu método de ensino, ele associa as regras do jogo à realidade dura vivida pelas crianças africanas retratadas na película. O filme deste modo também destaca o papel positivo que um professor pode desempenhar na vida de muitos jovens ao incentivar que tenham objetivos na vida e ao permitir que descubram seus próprios talentos: aquelas atividades nas quais são melhores e em que possam se destacar. Outro destaque do filme é para a mãe de Phiona, que sozinha, viúva e vivendo na pobreza, cria seus quatro filhos com a bravura de uma leoa.

Como é dito no filme, o jogo de xadrez ensina a resolver problemas, a planejar, a usar a mente e a encontrar mais segurança. Ao ser apresentada ao xadrez, uma colega de Phiona a informa que no xadrez uma pequena peça (peão) pode virar uma grande peça (rainha), o que também é uma mensagem para enfrentarmos os problemas que surgem em nossa vida. Além disso, as derrotas no xadrez – e na vida – servem para fortalecer e nos fazer aprender, para que encaremos de cabeça levantada um próximo jogo, com mais força e determinação: nas palavras do professor de Phiona, quando se perde, o que importa é recolocar as peças no tabuleiro e voltar a jogar. Outra metáfora interessante utilizada pelo filme é aquela sobre um cão que persegue um gato: o cão está correndo por mais uma refeição, mas o gato está correndo pela sua vida.

Cena do filme “Rainha de Katwe”

Durante as discussões, foi lembrado que a renda per capita de Uganda é cerca de 7 vezes menor que a renda per capita do Brasil que por sua vez é entre 3 e 4 vezes menor que a renda per capita dos Estados Unidos e estes fatores econômicos devem ser levados em consideração em qualquer análise. A África em geral foi vitimada por séculos de escravidão. Além disso, o colonialismo explorou economicamente os países africanos até o início da segunda metade do século 20. A escravidão e o colonialismo deixaram sequelas profundas e uma herança de destruição social. O debate lembrou que as potências imperiais e os países ricos, bem como os países que receberam escravos africanos (como foi o caso do Brasil) têm uma responsabilidade acerca da situação econômica e social terrível em que vive boa parte dos países africanos e por isso devem ter o compromisso moral de ajudar estes países a superarem as dificuldades em que se encontram. Uma forma de colaborar para o desenvolvimento de países africanos, que vem sendo feita pelo Brasil nos 10 anos, é pela capacitação de jovens africanos em universidades brasileiras que sejam adequadas e subsidiadas para recebê-los em cursos de graduação e pós-graduação, de modo a formar quadros que possam auxiliar no desenvolvimento econômico quando eles retornarem aos seus países de origem. O aumento do intercâmbio econômico e diplomático com países africanos é também uma forma de ajudá-los a sair da situação de miséria em que muitos vivem.

Por outro lado, uma análise mais crítica sobre o filme (feita, por exemplo, na resenha do site “Adoro Cinema” no link <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-234564/criticas-adorocinema/>), aponta que esta obra cinematográfica tem também uma exploração melodramática que acaba por incutir sutilmente um discurso de cunho neoliberal e exclusivamente meritocrático no subtexto da sua trama narrativa, com ares de lições de moral. A ausência de escolas de ensino fundamental e hospitais públicos e gratuitos em Uganda, registrada pelo filme, foi lembrada durante o debate, quando foi ressaltado que os sistemas de educação e saúde públicos devem ser valorizados simbólica e financeiramente de modo a aumentar na prática o caráter civilizatório de uma nação, pela criação de fato de oportunidades minimamente semelhantes para todos os cidadãos.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP; não é necessário fazer inscrição prévia: basta estar presente no auditório no início da exibição do filme. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

 Fonte: Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira

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