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Cinedebate

Cinedebate discutiu documentários “Nunca me sonharam” e “Parece comigo”

Publicado: Sexta, 20 de Outubro de 2017, 00h39 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h22

Na noite de 03 de outubro de 2017, terça-feira, entre 19h00 e 22h30, ocorreu mais um cinedebate, no auditório da Escola Estadual Colônia dos Pescadores, com a exibição e discussão de dois documentários nacionais: “Nunca me sonharam” e “Parece comigo”. Este cinedebate teve como público alvo os alunos do Cursinho Popular que é uma ação que o Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) desenvolve em colaboração com a Escola Colônia dos Pescadores. Os cinedebates fazem parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira (docente do IFSP-Caraguatatuba) e, neste caso, para a sua organização contou com o apoio de uma bolsista deste programa de extensão (Juliana Caroline da Silva Sousa), bem como de bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto, Rafael Brock Domingos e Izabela Duarte), todos eles orientados pelo professor Ricardo Plaza. A atividade contou com a participação de João Vitor Ramos e Nicolly Saskya (estudantes de Licenciatura em Matemática e de Tecnologia em Processos Gerenciais, no IFSP-Caraguatatuba), respectivamente professores de história e de português do Cursinho Popular, um projeto de extensão coordenado pelo Prof. Dr. Renato Aurélio Mainente. Os dois projetos de extensão descritos anteriormente são organizados no âmbito do IFSP-Caraguatatuba e os bolsistas presentes estudam em cursos superiores do IFSP-Caraguatatuba.

João Pereira, Rafael, Juliana, Nicolly, João Vitor e Ricardo

No período anterior ao intervalo (entre 19h e 20h30) foi exibido o documentário “Nunca me sonharam” (com duração de 84 minutos) dirigido por Cacau Rhoden e lançado neste ano de 2017, pela plataforma Videocamp (disponível no site: <www.videocamp.com>). A plataforma Videocamp disponibiliza diversas produções cinematográficas gratuitamente para cidadãos que queiram organizar sessões de exibição de uma determinada obra cinematográfica para mais de 5 pessoas: são filmes e documentários relacionados aos mais variados temas (diversidade, política, meio ambiente, etc), com o objetivo de provocar a reflexão. “Nunca me sonharam” tem como partida os depoimentos de jovens adolescentes de ensino médio de escolas públicas das mais variadas regiões do nosso país, tendo como mote central a questão de quais são os sonhos e as expectativas de cada um. Com depoimentos também de gestores, professores e pesquisadores da área da educação o filme permite pensar sobre o quanto a sociedade está cuidando e valorizando a qualidade da educação pública oferecida aos jovens na fase mais transformadora de suas vidas?

Em um depoimento marcante de questionamento sobre a situação atual da educação pública no Brasil, um dos entrevistados, pergunta de modo retórico, tendo Sartre ponto de vista, sobre o que devemos fazer ao nos depararmos com os problemas educacionais da escola pública: sentar e chorar ou sair e ir para a luta. Assim, se algo não está dando certo, deve-se estudar sobre isto, e propor e implantar mudanças. Outro depoimento marcante do filme afirma: “público” não significa ser de graça para a sociedade e, portanto, é fundamental cuidar bem do patrimônio público, da escola pública. Foi lembrado também que cultura e educação não podem se separar, para que possam conseguir mudar a nossa realidade social.

Após a volta do intervalo, às 21h, alguns destacaram que é fundamental que a sociedade brasileira seja uma sociedade do conhecimento, para conseguir tirar o país da miséria e construir uma nação menos desigual. Sobre a questão da meritocracia, foi ressaltado tanto no filme, quanto no debate, que esta é uma ideia teoricamente boa, mas que na prática, acaba se constituindo em uma desculpa conveniente para não resolver realmente os problemas em uma sociedade extremamente desigual como a nossa: em uma analogia feita por um entrevistado do documentário, é como fazer uma corrida para chegar ao topo do prédio, mas em que um indivíduo sai do quinto andar enquanto o outro indivíduo sai do subsolo e, para piorar, o primeiro sobe de elevador, enquanto o segundo tem que subir de escada. Por si só, isto tende a reproduzir as desigualdades, e não a combatê-las. Não faz sentido o Brasil ser um país tão desigual, inclusive para o desenvolvimento econômico, pois com isto todas as dimensões das relações humanas são esgarçadas. Deste modo, a educação é a porta de entrada para muitos outros direitos e tem um valor intrínseco associado à beleza de ver alguém pensando!

Após este debate, foi exibido um documentário mais curto (de 26 minutos), chamado “Parece comigo” que trata da falta de bonecas negras para as crianças brincarem e do ofício das bonequeiras que produzem este tipo de bonecas. Ele foi produzido por Kelly Cristina Spinelli e uma boa entrevista com esta diretora pode ser lida no link: <http://comkids.com.br/parece-comigo-bonecas-negras-contra-o-racismo/>. O documentário se encontra disponível para ser assistido gratuitamente no youtube no link: <https://www.youtube.com/watch?v=2bg5BYqQTUM>.

“Meninas negras não brincam com bonecas pretas”, diz a rapper Preta Rara em sua música “Falsa Abolição”, durante o documentário. Essa é uma questão que deve ser debatida nas escolas, para combater o racismo e respeitar a diversidade. Segundo a própria diretora Kelly, este filme tem uma função educativa e, portanto, deve ser de acesso fácil para todos, pois sem isso ele não serviria para nada: por isso ela disponibilizou-o no youtube. O documentário mostra como as bonecas pretas contribuíram para autoestima das meninas negras: por isso, são importantes para que elas possam lidar de modo mais positivo com diversos tipos de situações. Para as meninas que não são negras, esse documentário foi importante para que elas sentissem a importância da respeitar a diversidade para a construção de um país civilizado. Segundo uma pesquisa publicada em 2016, apenas 3% das bonecas disponíveis no mercado são negras, enquanto que a porcentagem da população negra no Brasil é de cerca de 53%. Os alunos do Cursinho Popular puderam se manifestar livremente, inclusive para aprenderem a como argumentar sobre um certo ponto de vista.

Cena do documentário “Parece comigo”

O documentário ressalta que as crianças não nascem com preconceitos, mas muitas ao crescerem tornam-se preconceituosas pela influência das pessoas que as cercam e, também, da mídia. Daí a importância da educação também discutir esse tipo de questão. Também se destacou que algumas pessoas negras reproduzem o racismo sem saber, pois este é o modelo vigente de modo hegemônico. O documentário mostra cenas marcantes de uma pesquisa feita nos Estados Unidos em que se perguntava para diversas crianças (que tinham duas bonecas a sua frente: uma branca e uma negra) qual das duas bonecas era ruim ou mais feia. Uma parcela considerável das crianças negras respondia apontando para as bonecas negras. Na pergunta seguinte “Qual boneca se parece mais com você”, o pensamento executado para fornecer a resposta, revelava que as crianças negras muitas vezes se sentiam entristecidas diante da situação de preconceito.

O Cursinho Popular de Caraguatatuba funciona no período noturno no auditório da Escola Colônia dos Pescadores e atende gratuitamente estudantes ou ex-estudantes de escolas públicas do litoral norte paulista que pretendem se preparar para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou para outros exames de seleção para ingresso no ensino superior. Os professores que lecionam as aulas do Cursinho Popular são estudantes universitários do IFSP-Caraguatatuba que recebem uma bolsa mensal financiada pela Pró-Reitoria de Extensão (PRX) do IFSP e são orientados por docentes do IFSP na preparação das aulas que ministram. Este ano de 2017 é o segundo ano em que o IFSP-Caraguatatuba está promovendo este Cursinho Popular com verbas da PRX e seu objetivo é ampliar as oportunidades de acesso ao ensino superior para jovens oriundos das classes trabalhadores que estudam ou estudaram em escolas públicas.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas orientados no IFSP-Caraguatatuba pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”, uma ação patrocinada com recursos da Pró-reitoria de Extensão (PRX) do IFSP. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados. As datas e os horários das sessões que ocorrem no auditório do IFSP-Caraguatatuba são sempre previamente comunicados a todos os interessados por informes publicados no site do próprio IFSP-Caraguatatuba. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

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