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Cinedebate

Cinedebate discutiu documentário sobre o aborto no Brasil

Publicado: Quinta, 23 de Agosto de 2018, 11h39 | Última atualização em Quinta, 23 de Agosto de 2018, 11h39 | Acessos: 1812

No dia 20 de agosto de 2018, segunda-feira, a partir das 18h00, no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), ocorreu a exibição – seguida pelo posterior debate – do documentário “Clandestinas” que aborda as consequências da criminalização do aborto no Brasil, sobretudo para as mulheres de baixa renda. A organização deste cinedebate contou com o apoio de bolsistas do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” (Rafael Honório Morais de Oliveira, Henrique Madeo Pereira, Larissa Comodaro Nunes Sant’Ana, Gabriel Xavier Luz, Jessica de Oliveira Santana, Yasmin Francisca dos Santos Coelho e Caio Cesar Nogueira), bem como dos atuais bolsistas de iniciação científica Rafael do Nascimento Sorensen, Ryan Nepomuceno Montemor e Diego Corrêa Peres de Souza e dos ex-bolsistas de iniciação científica João Pereira Neto e Rafael Brock Domingos, todos eles orientados pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira, docente do IFSP-Caraguatatuba. A servidora técnico-administrativa do IFSP, Joyci Mesquita Rocha Silva, também esteve presente participando deste cinedebate.

Estudantes que organizaram este cinedebate juntamente com o professor Ricardo Plaza

O documentário “Clandestinas” foi roteirizado por Renata Corrêa, dirigido por Fádhia Salomão e produzido por Babi Lopes. No transcorrer dos 23 minutos deste documentário são mostrados depoimentos de algumas mulheres que abortaram; de modo complementar, em outros momentos, atrizes interpretam a história de outras mulheres que escolheram abortar. O título do documentário – “Clandestinas” – remete à condição destas mulheres pelo fato de elas serem consideradas criminosas pela lei vigente em nosso país. Este documentário – que foi financiado por organizações feministas e pessoas físicas – pode ser assistido gratuitamente aqui.

O professor Ricardo Plaza lembrou logo no início da exibição que este é um tema complexo e que todas as opiniões e manifestações iriam ser igualmente respeitadas durante o debate, tanto de pessoas contrárias, quanto de pessoas favoráveis à descriminalização do aborto no Brasil.

Cena do documentário “Clandestinas”

Segundo o documentário, próximo de você, existe uma mulher que já abortou: são mulheres como a sua mãe, sua professora, sua médica, sua colega de trabalho ou sua amiga de escola. Segundo dados da Pesquisa Nacional do Aborto da UnB (Universidade de Brasília), uma em cada cinco mulheres no Brasil já abortou: é justamente para essas mulheres que o documentário “Clandestinas” pretendeu dar a voz. Durante o debate após a exibição foi solicitado que levantasse a mão quem conhecia uma mulher que já abortou, no seu círculo familiar, profissional ou de amizades, e a grande maioria dos presentes levantou a mão. Se estima que 800 mil abortos são realizados anualmente no Brasil, a esmagadora maioria deles de forma ilegal e sob péssimas condições de saúde: em 2013, por exemplo, apenas 1.523 abortos legais foram realizados pelo SUS. Os abortos legais previstos pela legislação brasileira até o momento podem ser feitos em apenas três casos: estupro; risco de vida para a mulher se ela continuar com a sua gravidez; feto anencéfalo.

Joyci Mesquita e Ricardo Plaza

Para estimular o debate foi apresentado um vídeo curto em que o médico, cientista e escritor Dráuzio Varella explica (em uma entrevista para a BBC) a sua posição a favor da legalização do aborto até o terceiro mês de gravidez; ele pode ser assistido em “Drauzio Varella em um debate franco sobre o aborto”. Outro vídeo curto utilizado para subsidiar o debate, com o médico Jefferson Drezett (coordenador do programa “Aborto Legal” no Hospital Pérola Byington, na cidade de São Paulo) foi “Aborto legal: O Estado brasileiro abandona suas mulheres, diz obstetra”. No Hospital Pérola Byington que é uma instituição pioneira na realização de abortos legais no Brasil e que atualmente realiza aproximadamente 30 procedimentos de abortos legais mensalmente, se estima que metade dos abortos legais realizados são em crianças e adolescentes que foram vítimas de violência sexual, em um grande número de casos, por alguém do próprio círculo familiar.

Foi apresentado também um mapa que mostra em que países do mundo as mulheres têm o direito de fazer um aborto de modo legal até o terceiro mês de gravidez (geralmente são nações consideradas economicamente desenvolvidas, da Europa, da América do Norte ou da Ásia, coloridas em verde no mapa do mundo) e países que impõe legislações bastante restritivas para as mulheres que precisam por algum motivo abortar (geralmente são nações ainda em processo de desenvolvimento econômico, da América Latina, da África e do Oriente Médio, coloridas em vermelho no mapa do mundo). Este mapa de alguma forma ajuda a refletir sobre esta questão. Os artigos “Como o aborto é tratado no mundo” e “Saiba como o aborto é tratado em vários pontos do Mundo” explicam estes dados de modo mais detalhado.

Mapa sobre as leis a respeito do aborto nas diferentes nações do mundo

Dráuzio Varella em outro vídeo sobre aborto disponível aqui argumenta que a estimativa é que entre 7 e 8 milhões de mulheres brasileiras já realizaram um aborto ao longo de suas vidas: como a população carcerária do Brasil é de cerca de 600 mil presos, ele de modo instigante pergunta se é razoável e sensato pensar que todas estas 7 ou 8 milhões de mulheres brasileiras são criminosas e sobre se elas deveriam estar na cadeia – aliás, muitas destas mulheres inclusive estão em nossas famílias, no nosso círculo de amizades e no nosso ambiente de trabalho ou de estudo.

Foi lembrado que há pessoas – em alguns casos por motivos religiosos e em outros casos por convicções de cunho pessoal – que acreditam que a vida humana começa no momento em que o espermatozoide fertiliza o óvulo formando uma célula inicial, o zigoto. Mas o debate também ressaltou que há outras pessoas que não consideram que uma célula minúscula – que não pode ser vista sem um microscópio – possa ser considerada um ser humano pleno de direitos e independente. Os vídeos apresentados informaram que há inclusive religiões que consideram que só existe realmente um ser humano (“uma pessoa independente”) no momento do parto.

A estimativa é de que uma mulher, quase sempre das classes mais pobres, morre a cada 2 dias devido a abortos inseguros no Brasil

Do ponto de vista médico e científico, durante o debate foi lembrado que uma pessoa é considerada morta se não apresenta mais atividade cerebral mensurável, mesmo que o coração esteja batendo por algum motivo (como, por exemplo, por auxílio de aparelhos): é exatamente neste momento que os órgãos podem ser retirados para doação, se assim for o desejo expresso previamente pela pessoa que morreu. De modo análogo, muitos consideram que como é aproximadamente no terceiro mês de gravidez que surge uma atividade cerebral mensurável no feto (com um sistema nervoso desenvolvido em atividade) é só a partir deste momento que se pode dizer que há um ser humano. Por este motivo é que na maior parte dos países em que o aborto é legalizado, nas nações mais desenvolvidas economicamente, ele geralmente só pode ser realizado até o terceiro mês de gravidez.

Uma boa entrevista com a roteirista do documentário “Clandestinas” pode ser lida no artigo intitulado “Renata Corrêa e o documentário Clandestinas: Há médicos que punem violentamente mulher que abortou”.

Página do site da organização “Católicas pelo direito de decidir” que defende a descriminalização do aborto

Foi lembrado também que há pessoas que se consideram cristãs, mas que defendem a legalização do aborto, como mostra o site “Católicas pelo direito de decidir” que apresenta diversos artigos que argumentam a favor da descriminalização do aborto no Brasil. Adicionalmente, o artigo “8 filmes para debater a legalização do aborto” é uma boa fonte de pesquisa cinematográfica para quem quer se aprofundar neste tema.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas e ex-bolsistas de iniciação científica e de extensão no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” do IFSP-Caraguatatuba que é coordenado pelo professor Ricardo Plaza. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP. Não é necessário fazer inscrição prévia: basta estar presente no auditório no início da exibição do filme. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza para juntos organizarem os detalhes.

Fonte: Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira

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