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Cinedebate

Cinedebate discutiu documentário sobre Chico Mendes no IFSP-Caraguatatuba

Publicado: Quinta, 05 de Outubro de 2017, 10h16 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h21

No dia 14 de setembro de 2017, quinta-feira, a partir das 16h30, ocorreu mais um cinedebate no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição – seguida pela posterior discussão – do documentário “Chico Mendes – Cartas da Floresta”. Esta atividade fez parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira e para a sua organização contou com o apoio de seus bolsistas deste programa de extensão (Kauã Estevam Cardoso de Freitas, Rodrigo Henrique Revelete Godoy, Juliana Caroline da Silva Sousa, Julia Cristina Barbosa Lucoveis, Rafael Honório Morais de Oliveira, Rafael do Nascimento Sorensen e Thiffany Souza do Nascimento), bem como de seus bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto e Izabela Duarte). Este cinedebate contou também com a presença de João Rocha que foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, cassado pela ditadura militar em 1964, e que no início dos anos 1980 trocou uma série de cartas com Chico Mendes e hospedou-o em sua casa.

Professor Ricardo Plaza e João Rocha

Além de estudantes e cidadãos da comunidade externa à instituição, participaram deste cinedebate diversos docentes (Shirley Pacheco de Souza, Maria do Carmo Cataldi Muterle, Priscila Cristini dos Santos, Samara Salamene, Alex Lino) e servidores técnico-administrativos (Maíra Ferreira Martins e Bernardina Francisca de Miranda) do IFSP. Este cinedebate contou também com a participação de Cláudio Rezende Francisco que é professor de história da Escola Estadual Alcides de Castro Galvão. 

Shirley, Alex, Ricardo, João Rocha e Priscila

Chico Mendes (1944-1988) foi um importante sindicalista, líder seringueiro, ativista político e ambientalista que foi assassinado em 22 de dezembro de 1988. Ele lutou a favor dos seringueiros no estado do Acre, cuja subsistência dependia intensamente da preservação da floresta amazônica e das seringueiras nativas. Seu ativismo lhe trouxe reconhecimento internacional, mas ao mesmo tempo provocou a ira dos grandes fazendeiros locais que contrataram um pistoleiro para assassiná-lo e calar a sua voz.

Professores e servidores técnico-administrativos junto com João Rocha

O documentário “Chico Mendes – Cartas da Floresta”, que foi exibido neste cinedebate, foi dirigido por Dulce Queiroz, 20 anos após o assassinato de Chico Mendes, e recebeu a Menção Honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2009. Este excelente documentário (com 43 minutos de duração) que foi produzido pela TV Câmara pode ser assistido no link: <https://www.youtube.com/watch?v=yuzxU--uNNM>. Cartas, bilhetes e entrevistas mostram como Chico Mendes aprendeu a ler e a escrever tardiamente e fora dos bancos escolares, tornando-se o maior líder seringueiro da história do Brasil. O documentário mostra a luta dos seringueiros contra a pressão do latifúndio e a devastação da floresta. Diversos depoimentos foram filmados na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, duas décadas após o assassinato do líder seringueiro. Este documentário conta com depoimentos do escritor Zuenir Ventura e da antropóloga Mary Allegretti, bem como de amigos e parentes de Chico Mendes, de modo a mostrar como ele conseguiu chamar a atenção do Brasil e do mundo para a importância de se preservar a floresta. A criação das reservas extrativistas foi um resultado concreto da sua luta.

Chico Mendes

Após a exibição de “Chico Mendes – Cartas da Floresta”, diversos dos presentes fizeram intervenções comentando alguns aspectos do documentário que mais chamaram a atenção durante a exibição. Em particular foi destacado que no passado muitos brasileiros se destacaram na luta contra o arbítrio e as injustiças, inclusive pagando com a própria vida, enquanto que hoje, pela análise crítica feita na discussão, grande parte das pessoas parece estar num estado de passividade e de muito pouco engajamento social perante diversos tipos de situações que impactam negativamente parcelas expressivas da sociedade brasileira. Adicionalmente, foi lembrado o importante e necessário papel social desempenhado por sindicalistas que defendem os direitos das categorias de trabalhadores que eles representam.

João Rocha conversa com os presentes sobre Chico Mendes

Após as intervenções de alguns dos presentes, o professor Ricardo Plaza apresentou João Rocha e solicitou se ele poderia compartilhar um pouco das suas experiências e do contato que teve com Chico Mendes. João Rocha trouxe, para mostrar aos presentes, as diversas cartas manuscritas pelo próprio Chico Mendes que ele recebeu em 1980, documentos com um grande valor histórico que em 2018 – 30 anos após a morte de Chico Mendes – serão doados para um acervo da Unicamp.

Público discute a respeito das ideias de Chico Mendes

João Rocha escreveu um resumo a respeito desta parcela da história da sua vida e entregou este texto às pessoas que estavam no auditório. Abaixo, reproduzimos uma parte deste escrito:

“Cartas do Acre

Um pouco de História

Em 1980, eu participava das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, da Diocese de Campinas – SP. Mais precisamente da Pastoral Operária. Nessa época, a convite das CEBs, o Chico Mendes esteve em Campinas fazendo uma série de palestras.

A coordenação das CEBs achou que seria interessante o Chico Mendes se hospedar na casa de um operário, para troca de experiência. Foi sugerida a minha casa. Portanto, hospedamos Chico Mendes, nos dias em que ele esteve em Campinas.

Durante este período conversamos muito sobre as nossas experiências e nossas lutas. Ele me contou sobre a situação dos seringueiros do Acre, e o enfrentamento em defesa dos seringais e da Floresta Amazônica, contra os fazendeiros e a perseguição da ditadura.

Depois que ele retornou ao Acre, continuamos a nos comunicar, através de cartas, onde ele relatava a situação daqueles dias difíceis dos seringueiros. Acredito que estas cartas devem ser divulgadas, pois contêm mensagens e depoimentos que retratam a realidade daquele momento triste da história do Acre e dos seringueiros. E que poderão nos chamar à reflexão.

Neste contato com o Chico, ficaram algumas lições: humildade, coragem e altruísmo.”

Bolsistas que organizaram este cinedebate juntamente com professor Ricardo Plaza

Uma das cartas que Chico Mendes enviou para João Rocha tem o seu conteúdo reproduzido abaixo para conhecimento dos leitores:

“Xapuri, Acre, 17/08/1980

Companheiro João Rocha, depois de muitos dias agitadíssimos que envolvem todos trabalhadores, agora reina um pouquinho de calma, contudo não esquecemos que as coisas poderão esquentar a qualquer momento. O avanço dos trabalhadores continua, mas hoje eu vou aproveitar a tarde para descansar um pouco, pois estou com 60 dias sem direito para descansar pelo menos uma hora. Tive contato com mais de 5.000 trabalhadores, acho que agora mereço pelo menos 4 horas de descanso.

Aproveito para te escrever estas poucas linhas e te enviar o meu último pronunciamento, desta semana. Muito moderado, mas eu aqui, sozinho, tenho que ser muito vivo, porque do contrário o pessoal acaba comigo. Meu trabalho é sempre mais nas bases.

Um abração do amigo

Chico Mendes.”

Este cinedebate foi uma ação de cunho cultural que procurou também dialogar com as atividades de mobilização social e as paralisações contra cortes de recursos para a educação que ocorreram neste dia 14/09/2017 em todo o Brasil. Por este motivo no final da manhã desta quinta-feira, o mesmo documentário foi exibido a partir das 11h30, de modo que os estudantes do período matutino pudessem assistir e conhecer um pouco mais sobre a vida e a luta deste importante líder seringueiro.

A equipe do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” agradece imensamente a participação, neste cinedebate, de João Rocha que foi muito elucidativa e contribuiu para conhecer melhor aspectos importantes da vida de Chico Mendes.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP; não é necessário fazer inscrição prévia: basta estar presente no auditório no início da exibição do filme. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

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