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Cinedebate

Cinedebate discutiu documentário Porque a Bíblia me diz assim

Publicado: Segunda, 06 de Novembro de 2017, 11h50 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h16

No dia 31 de outubro de 2017, terça-feira, a partir das 17h00, ocorreu uma sessão de cinedebate no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição – seguida pela posterior discussão – do documentário “Porque a Bíblia me diz assim”. A organização deste evento contou com o apoio dos bolsistas do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” (Kauã Estevam Cardoso de Freitas, Rodrigo Henrique Revelete Godoy, Rafael Honório Morais de Oliveira, Rafael do Nascimento Sorensen, Diego Corrêa Peres de Souza, Juliana Caroline da Silva Sousa, Julia Cristina Barbosa Lucoveis e Ruy Guilherme Farias Santos Bastos), bem como de bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto, Adriana de Andrade, Rafael Brock Domingos e Izabela Duarte), todos eles orientados pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira. O professor Mauro Ribeiro Chaves, docente de artes do IFSP-Caraguatatuba, participou também desta atividade e contribuiu com as discussões que foram realizadas após a exibição do filme. A professora Melissa Müller, que é uma transexual ativista e docente da rede pública de ensino de Caraguatatuba, também esteve presente e contribuiu bastante para o debate que ocorreu.

Professores Melissa e Ricardo Plaza com bolsistas que organizaram este cinedebate

O documentário “Porque a Bíblia me diz assim” (o título em inglês é: “For the Bible tells me so”) foi lançado em 2007 e foi dirigido por Daniel G. Karslake, tendo sido indicado para o prêmio de melhor documentário no prestigiado Festival de Cinema de Sundance. Este documentário (legendado em português) tem 1 hora e 38 minutos de duração e pode ser assistido completo no youtube pelo link: <https://www.youtube.com/watch?v=RSkUAx-IY6I>. Mais informações sobre ele podem ser lidas em inglês no site do IMDB no link: <http://www.imdb.com/title/tt0912583/?ref_=nv_sr_1>. Segundo o site IMDB, ele basicamente aborda as interseções entre religião e homossexualidade nos Estados Unidos, com uma ênfase sobre a forma como alguns grupos religiosos fundamentalistas estigmatizam a comunidade gay. No documentário, vários pais e mães de cinco famílias norte-americanas muito religiosas relatam como foi a experiência de descobrir que seus filhos eram gays e sobre como lidaram com algumas ideias fundamentalistas arraigadas nas suas mentes de que homossexuais eram pervertidos e condenados ao inferno.

Professores Melissa e Ricardo

O filme conta com o depoimento de vários teólogos, pastores e do bispo anglicano Desmond Tutu (Prêmio Nobel da Paz) que criticam as leituras fundamentalistas da Bíblia que condenam a homossexualidade como uma abominação, propagando o ódio e gerando como consequência muita dor e sofrimento entre gays e lésbicas, muitas vezes desde a adolescência: a interpretação literal do texto bíblico é desconstruída por eles na medida em que se contextualiza a situação cultural e a mentalidade presente na época em que ele foi escrito. Uma curta cena de 3 minutos da série “West Wing” (que também é apresentada durante o documentário exibido neste cinedebate) com o prestigiado ator Martin Sheen no papel de presidente dos Estados Unidos ilustra um pouco das ideias apresentadas e pode ser assistida em: <https://www.youtube.com/watch?v=xaiDzynEFQg>.

Professores Mauro e Ricardo

Um trecho de 4 minutos do documentário “Porque a Bíblia me diz assim” com uma animação com informações sobre aspectos científicos a respeito do tema pode também ser assistido em: <https://www.youtube.com/watch?v=uCEs0Vrdx0I>. Segundo o site “Diversidade Católica” este “documentário faz uma revisão da interpretação das Escrituras sobre a homossexualidade, apontando evidências bíblicas do amor e aceitação de Deus pelos homossexuais e comunidade LGBT e denunciando o preconceito promovido por fundamentalistas religiosos” (<http://www.diversidadecatolica.com.br/2016/11/25/porque-a-biblia-me-diz-assim-documentario/>). Há pais ainda hoje que dizem que preferem ter um filho morto do que um filho gay: esta frase pode ser devastadora na vida de um jovem que está descobrindo a sua sexualidade. Segundo o público presente, este é um dos fatores pelos quais é importantíssimo combater a homofobia e as instituições de ensino têm um papel fundamental neste sentido, inclusive acolhendo, orientando e informando jovens que sofrem por causa do preconceito e da ignorância. A homofobia é cruel com as suas vítimas, pelo fato de gerar medo, culpa e vergonha. Os dados indicam que entre homossexuais os índices de suicídios são entre 3 e 7 vezes maiores que entre heterossexuais: muitos jovens que descobrem que são homossexuais se sentem como criminosos e odiados por seus familiares que deveriam amá-los. Mas no filme, alguns dos familiares entrevistados relataram que decidiram amar seus filhos e aceitá-los como eles são porque perceberam que estavam sendo enganados por uma interpretação fundamentalista da sua religião.

Cena com depoimento de uma mãe cuja filha se suicidou

O ódio por parte de homofóbicos, sobretudo quando estão em grupo, gera também ainda hoje, em pleno século XXI, muita violência que vitimiza homossexuais e mesmo heterossexuais que são confundidos com homossexuais por algum motivo, como foi o caso de um pai e seu filho que foram espancados após se abraçarem na cidade de São João da Boa Vista (SP) em 2011, como pode ser lido na reportagem: <https://www.cartacapital.com.br/sociedade/pai-e-filho-sao-espancados-apos-se-abracarem>.

Durante o debate também foi lembrado que a homossexualidade não é uma opção, mas sim uma característica das pessoas (assim como a heterossexualidade). Pelo fato de não ser uma escolha, não tem sentido punir as pessoas pela sua orientação sexual, do mesmo modo como não tinha sentido punir pessoas canhotas (ser canhoto também é uma característica das pessoas e não uma opção), como ocorria durante a inquisição católica há cerca de cinco séculos: assim como as pessoas não escolhem ser canhotas, elas também não escolhem ser homossexuais! A respeito desta questão o padre jesuíta Luís Corrêa Lima que também é historiador, analisa a homossexualidade hoje e historicamente de forma muito serena em uma entrevista de 27 minutos que é altamente recomendada e que pode ser assistida em: <https://www.youtube.com/watch?v=wzPyNdmxX3M>.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), organização que pertence a ONU, a homossexualidade não é uma doença, portanto não tem sentido falar em “cura gay”; em 2012, a OMS condenou oficialmente a prática da “cura gay”, por considerá-la “uma grave ameaça à saúde e ao bem-estar das pessoas afetadas”. Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser considerada um transtorno ou distúrbio mental e foi excluída completamente do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) da Associação Americana de Psiquiatria. O artigo “A despatologização da orientação sexual: O papel da Resolução 01/99 e o enfrentamento da homofobia” publicado no site do CRP (Conselho Regional de Psicologia) de São Paulo é recomendado para quem queira se aprofundar nesta questão e está disponível para ser lido inteiramente no link: <http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/cadernos_tematicos/11/frames/fr_despatologizacao.aspx>. Outro artigo muito útil para se aprofundar em pontos científicos acerca desta questão é “As pessoas nascem ou se tornam gays? Uma investigação científica e psicanalítica” publicado no site: <http://www.socialistamorena.com.br/as-pessoas-nascem-ou-se-tornam-gays-uma-investigacao-cientifica-e-psicanalitica/>.

Outro ponto também abordado foi a respeito da homossexualidade entre diferentes espécies de animais que é bem documentada e é objeto de intensas pesquisas científicas. O artigo “10 animais que praticam a homossexualidade” do site “Hypescience” apresenta dados bastante interessantes a este respeito e pode ser lido no link: <https://hypescience.com/10-animais-que-praticam-a-homossexualidade/>.

Público debate o documentário “Porque a Bíblia me diz assim”

A equipe de bolsistas que organizou este cinedebate agradece a participação da professora Melissa Müller que colaborou bastante com as discussões que foram realizadas após a exibição do documentário “Porque a Bíblia me diz assim”.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP; não é necessário fazer inscrição prévia: basta estar presente no auditório no início da exibição do filme. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

Fonte: Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira

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