Cinedebate no IFSP-Caraguatatuba discutiu o filme “O início do fim” sobre a construção das primeiras bombas atômicas
No dia 12 de maio de 2017, sexta-feira, entre 19h00 e 21h30, ocorreu um cinedebate, no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição e discussão do filme “O início do fim”, que narra os acontecimentos que envolveram o Projeto Manhattan, no qual foram elaboradas as primeiras bombas nucleares durante a segunda guerra mundial. Esta atividade faz parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira e para a sua organização contou com o apoio de bolsistas deste programa de extensão (Kauã Estevam Cardoso de Freitas, Rodrigo Henrique Revelete Godoy, Rafael Honório Morais de Oliveira, Rafael do Nascimento Sorensen, Julia Cristina Barbosa Lucoveis e Thiffany Souza do Nascimento), bem como de bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto e Rafael Brock Domingos). Estiveram presentes muitos estudantes do curso de Licenciatura em Física, bem como alunos de outros cursos e interessados da comunidade externa ao IFSP.
Professor Ricardo Plaza e alguns dos bolsistas que organizaram o cinedebate sobre o filme “O início do fim”
O filme “O início do fim” (título original em inglês: “Fat man and little boy”) dirigido por Roland Joffé e lançado em 1989, conta com o ator Paul Newman no papel do general Leslie R. Grooves e com o ator Dwight Schultz no papel do físico J. Robert Oppenheimer, os dois protagonistas centrais da história. “O início do fim” apresenta ao longo da sua trama histórica uma tensão evidente entre militares (que necessitavam manter em segredo o projeto) e cientistas (que precisavam de liberdade para as discussões científicas sobre as possibilidades de execução do projeto). Um elemento constante é a desconfiança dos militares com respeito a Oppenheimer, sobretudo pelas relações e amizades que mantinha com comunistas e militantes de esquerda, em geral. O título em inglês do filme faz alusão aos nomes-códigos das duas bombas que foram jogadas sobre o Japão em 1945: “fat man” (“homem gordo”) e “little boy” (“pequeno menino”), respectivamente uma bomba de plutônio (lançada em Nagasaki em 09/08/1945) e uma bomba de urânio (lançada em Hiroshima em 06/08/1945). Algumas cenas do filme, que descrevem o primeiro teste com uma bomba nuclear em uma região desértica dos Estados Unidos, podem vistas no link: <https://www.youtube.com/watch?v=emVaK5MoPBg>. Mais informações (em inglês) sobre este filme podem ser obtidas no site IMDB no link: <http://www.imdb.com/title/tt0097336/?ref_=nv_sr_1>.
Professor Ricardo Plaza com estudantes após o cinedebate sobre o filme “O início do fim”
O filme apresenta muitos dos físicos que participaram do esforço para construir as bombas atômicas e que tinham fugido da Europa durante a ascensão do nazismo: algumas reuniões inclusive ocorriam em alemão, devido à sutileza dos detalhes científicos discutidos e à necessidade de precisão. O Projeto Manhattan foi um dos primeiros empreendimentos de “big science” que só conseguiu acontecer pelo fato de ter sido subsidiado com recursos públicos para manter muitos cientistas, engenheiros, técnicos e militares no meio do deserto de Los Alamos, no estado do Novo México, nos Estados Unidos. Ele começou, em 1939, a partir de uma carta assinada pelos eminentes físicos Albert Einstein e Leo Szilard (ambos judeus fugitivos das perseguições do nazismo que se espalhava por quase toda a Europa) para o presidente dos Estados Unidos na época (Franklin D. Roosevelt), alertando-o para as possibilidades de construir artefatos explosivos com poderes descomunais empregando a fissão nuclear que foi descoberta em dezembro de 1938, pelos físicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann, mas que só foi interpretada correta e definitivamente pela física Lise Meitner. No ano seguinte, em setembro de 1939, teve início a segunda guerra mundial que se prolongou até 1945 e se tornou a mais letal de todas as guerras que já existiram, pois foi responsável pela morte de algo entre 50 e 60 milhões de seres humanos.
No total, cerca de 130 mil pessoas foram empregadas ao longo da execução do Projeto Manhattan, quando foram gastos cerca de 2 bilhões de dólares, em preços da época. O filme mostra que a partir de 1943, com os exércitos alemães recuando, diversos dos cientistas que colaboravam com o Projeto Manhattan – basicamente pelo receio real de a Alemanha também estar desenvolvendo bombas atômicas – passaram a questionar eticamente o objetivo de construir estas bombas com poderes gigantescos de explosão. Quando, em maio de 1945, a Alemanha se rendeu e a guerra acabou na Europa, esta crise de consciência se ampliou. O primeiro teste de uma bomba nuclear (denominada “Trinity”) ocorreu em julho de 1945 em um deserto do sul dos EUA. Como os japoneses estavam sozinhos na Guerra (a Alemanha e a Itália já tinham se rendido), estava claro para muitos que a rendição do Japão estava próxima e, por isso, muitas pessoas até hoje questionam o lançamento das bombas sobre as duas cidades japonesas, mesmo do ponto de vista militar. O filme apresenta a ideia, que existiu em julho de 1945, de convidar alguns observadores japoneses para observarem o poder destrutivo deste teste, de forma a convencer as autoridades japonesas a se renderem, sem precisar usar as bombas sobre centenas de milhares de civis, ideia esta que acabou sendo recusada pelos militares norte-americanos.
Com a lembrança de que o exército vermelho da União Soviética chegou primeiro em Berlim, capital da Alemanha, antes que os norte-americanos, obrigando a dividir a Alemanha em duas no pós-guerra (Alemanha Ocidental capitalista e Alemanha Oriental comunista), no debate que se seguiu à exibição do filme, foi argumentado que o lançamento das duas bombas atômicas em 6 e 9 de agosto de 1945, sobre Hiroshima e Nagasaki, do ponto de vista norte-americano, basicamente decorreu da necessidade de encerrar a guerra com os japoneses de modo rápido, para que o Japão (que era a maior potência industrial asiática da época) se rendesse direta e unicamente para os Estados Unidos, e se tornasse um aliado norte-americano após 1945, quando acabou a segunda guerra mundial, mas começou a guerra fria entre EUA e URSS. A hipótese de ter que dividir o Japão com a União Soviética se a guerra se prolongasse, pode ter sido o argumento mais forte para a decisão dos EUA de jogarem duas bombas como estas nas duas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, exterminando ao todo cerca de 200 mil seres humanos, a imensa maioria constituída de civis (crianças, mulheres, idosos, ...), e matando, inclusive, vários soldados norte-americanos que estavam presos em Hiroshima, como prisioneiros de guerra.
Antes e depois do cinedebate, bolsistas do professor Ricardo Plaza montaram um dos dois telescópios adquiridos pelo IFSP-Caraguatatuba, na área aberta existente atrás do auditório da instituição, e realizaram observações do céu noturno, juntamente com estudantes e docentes do IFSP-Caraguatatuba que estiveram presentes, tais como a Profa. Dra. Luciana Brasil Rebelo dos Santos e o Prof. Me. Lucas Venezian Povoa.
Professores Lucas Venezian e Luciana Brasil com estudantes durante observação do céu noturno
Os cinedebates são seguidos de observações do céu noturno, quando o tempo não está nublado. Na pré-história, quando obviamente não existia o cinema e a televisão, de noite, os seres humanos possivelmente se postavam diante de fogueiras admirando a escuridão e as estrelas do céu noturno e debatendo sobre os mistérios do universo e da vida: este, em certo sentido, é também o espírito dos cinedebates que são realizados regularmente no IFSP-Caraguatatuba!
Professor Ricardo Plaza com estudantes em observação do céu noturno
As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP. As datas e os horários em que estas sessões ocorrerão também são sempre previamente comunicados a todos os interessados por informes publicados no site do IFSP-Caraguatatuba. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.
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