Ir direto para menu de acessibilidade.
Início > Antigas > SNCT-2016 no IFSP-Caraguatatuba começa com palestra sobre crise que atinge a Educação
Início do conteúdo da página

SNCT-2016 no IFSP-Caraguatatuba começa com palestra sobre crise que atinge a Educação

Publicado: Sábado, 22 de Outubro de 2016, 07h24 | Última atualização em Sábado, 22 de Outubro de 2016, 07h24

No dia 17 de outubro de 2016, segunda-feira, a partir das 9 horas da manhã, a Profa. Dra. Crislei de Oliveira Custódio apresentou a Palestra intitulada “Crise da ou na educação: Reflexões sobre o mundo moderno e os regimes de temporalidade numa perspectiva arendtiana” no auditório do câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Esta palestra abriu a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) de 2016, conjuntamente com a 2ª Jornada da Matemática.

Professores do IFSP-Caraguatatuba juntamente com a professora CrisleiProfessores do IFSP-Caraguatatuba juntamente com a professora Crislei

Na abertura da SNCT-2016, antes da palestra da professora Crislei, se pronunciaram a Diretora Geral em Exercício do IFSP-Cargautatuba, Profa. Espec. Tânia Cristina Lemes Soares Pontes, a Diretora Adjunta Educacional, Profa. Ma. Juliana Matheus Grégio Pereira e o Coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática, Prof. Me. Luis Américo Monteiro Junior, que saudaram todos os presentes e incentivaram os estudantes a participarem do máximo de atividades acadêmicas que ocorrerão ao longo de toda a semana.

Professoras Juliana, Tânia, Andressa e CrisleiProfessoras Juliana, Tânia, Andressa e Crislei

A professora Crislei é doutora pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e atualmente é docente da Fundação de Apoio à Faculdade de Educação da USP. Ela vem se dedicando, sobretudo, em trabalhos com ênfase na área dos Fundamentos da Educação, tendo como um dos seus referenciais teóricos a filósofa alemã de origem judaica Hannah Arendt.

Ela começou a sua palestra perguntando retoricamente: Por que eu vou para a escola? A escola tem que fazer sentido para quem estuda nela. Mas para isto os conteúdos têm que ser selecionados de acordo com a sua relevância que não é o mesmo que utilidade. A arte ou conteúdos relacionados à astronomia, por exemplo, não são utilitários, mas são relevantes para ampliar as concepções estéticas e científicas dos cidadãos em formação. Assim sendo, por exemplo, ler Machado de Assis não é algo tem uma utilidade prática imediata, mas é algo importante para a formação humanística dos cidadãos. Portanto, é preciso desconfiar da lógica de que só o que é útil é bom! A escola foi em primeiro lugar o espaço da democratização do tempo livre do trabalho e das preocupações com a subsistência para poder se formar, sem se importar com o que é produtivo ou utilitário.

Professora Crislei em sua palestraProfessora Crislei em sua palestra

Durante a palestra e o debate que se seguiu foram abordadas questões relacionadas a três projetos de lei: a PEC 241 que pretende congelar recursos para a educação por 20 anos; a MP 746 que propõe mudanças do ensino médio sem dialogar com os setores afetados e que implicam num empobrecimento da formação humanística e científica dos jovens cidadãos; a proposta “Escola sem Partido” que na prática imporá uma censura sobre o trabalho docente e impedirá o livre debate que é inerente ao processo educacional.

A professora Crislei citou em sua palestra o livro “Eichmann em Jerusalém: relatos sobre a banalidade do mal” em que a filósofa Hannah Arendt analisa o julgamento do criminoso de guerra nazista alemão Adolf Eichmann, em Israel, em 1961, após ele ser descoberto e preso na Argentina para onde tinha fugido após a Segunda Guerra Mundial. Nesta época, Arendt estava acompanhando o julgamento como correspondente da Revista “New Yorker”. O prólogo deste livro pode ser lido no link: https://hannaharendt.wordpress.com/2009/10/22/epilogo-eichmann-em-jerusalem-um-relato-sobre-a-banalidade-do-mal-arendt/. Em sua análise, Arendt escreveu que Eichmann não era um “demônio nazista”, como o senso comum imagina, mas sim um sujeito terrivelmente normal, um burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo e por amor ao dever, sem pensar nas suas consequências; na visão de Eichmann, se não fosse ele, seria alguma outra pessoa que teria feito o mesmo, e, portanto, ele não se responsabilizava pelo que decorreu de seus atos. A professora Crislei lembrou então o significado original da palavra “idiota” que tem sua raiz no idioma grego “idios” que significa “pessoal, privado”: para os gregos antigos, idiota é aquele que se preocupa só com aquilo que é “privado” e que é “pessoal”, sem se preocupar com aquilo que é público.

Público presente na abertura da SNCT-2016Público presente na abertura da SNCT-2016

Trazendo a discussão da palestra para a atualidade, foi lembrado que a PEC 241, ao congelar recursos para a educação por 20 anos, compromete o futuro dos mais jovens. Segundo as ideias de Hannah Arendt, portanto, nós todos na sociedade carregaremos a responsabilidade perante as novas gerações de não termos oferecido resistência suficiente a esta proposta, o que é ainda mais grave pelo fato de que é a população menos favorecida socialmente que será a mais afetada, pois é ela a que mais depende dos serviços públicos. Além disso, foi citado que há outras saídas para a questão do financiamento da educação pública, dentre elas o projeto de taxação de grandes fortunas que está parado no congresso nacional, o combate à sonegação de impostos por parte dos extratos mais ricos da sociedade e a diminuição dos gastos gigantescos com o pagamento de juros da dívida pública para grandes rentistas, financistas e banqueiros. Temos responsabilidades como professores e como cidadãos; a responsabilidade de quem atua na escola pública é ainda maior, pois não estamos lidando com consumidores, mas com jovens cidadãos que deveriam ter o direito a serviços de educação e saúde públicos e de qualidade, assim como todos os brasileiros. É exatamente por isto que a escola pública tem que acolher todos os públicos e ser democrática e plural.

O IFSP-Caraguatatuba agradece muito à professora Crislei de Oliveira Custódio pela realização desta palestra que colaborou bastante para a formação dos estudantes do curso de Licenciatura em Matemática que constituíam a grande maioria dos presentes. A Escola tem que ser, também, um local de pluralidade e de debate sobre as questões educacionais, sociais, econômicas, políticas, científicas, culturais, artísticas e éticas que atingem a população e palestras como esta ajudam a materializar esta ideia.

registrado em:
Fim do conteúdo da página